Pós-jogo semana 1: Estreia com derrota para rival de divisão
Vamos começar pelo fim. A sensação que a derrota de ontem deixou na torcida foi de luto, guardadas as devidas proporções.
Comentários da torcida na internet refletem sempre algum estágio do luto: negação, raiva, barganha, depressão, aceitação. “O time ainda tá se encontrando”; “Tanta expectativa para esta me***!”; “Bota o Dalton e testa as novas peças do ataque!”; “Nunca serei feliz com os Panthers”; e “Os Panthers não têm solução e temos que assumir os erros! Que venha o Draft de 2025!”
No caso deste que vos escreve, as duas primeiras campanhas do jogo me lembraram uma música bastante desconhecida de uma banda de rock farofa chamada “Cinderella” que transmite a sensação de desalento:
“Quanto mais as coisas mudam,
Mais elas permanecem as mesmas
Precisamos de um milagre para nos afastar da dor”
E não foi assim que o jogo começou? Saints anotam um TD numa terceira descida no próprio campo. Bryce Young recebe a bola e é interceptado de plano!
E esta toada permaneceu ao longo das nove primeiras campanhas dos Saints: se a bola mudasse de mãos, os Saints iriam pontuar. Por mais que doa, eram os Saints que kept on pounding.
Foram QUARENTA E SETE pontos em campanhas consecutivas do primeiro down do jogo até faltarem 6’51” para o fim da peleja.
Não há razão para descrever sumariamente as idas e vindas da partida do último domingo. Os Saints jogaram bem. Carolina não jogou.
Que tal sintetizarmos o desempenho do Carolina Panthers ontem, conforme as estatísticas do portal “The Score”?
Carolina teve apenas 11 first downs. A taxa de conversão de third downs foi pífia: 1-10. Apenas 58 jardas terrestres em 20 tentativas de jogo corrido com uma média de 2.9j/carregada. O jogo aéreo conseguiu ser pior: 13/31 para 135 jardas (média de 4,35j para tentativa), 2 INTs, 4 sacks, 1 fumble de recebedor.
Por Deus! Andy Dalton teve um rating MAIOR do que o Bryce Young sem acertar um passe! Sim: a quantidade de passes completos de Andy Dalton, igual à sua leitor, no jogo de ontem foi suficiente para ter um rendimento melhor do que o Bryce Young.
Jogador | Passes C/T | Jardas | INTs | Sacks | Rating |
B. Young | 13/31 | 161 | 2 | 4 | 32.8 |
A. Dalton | 0/1 | 0 | 0 | 0 | 39.6 |
O anseio humano em procurar causas (culpados) para as consequências está focado em Bryce Young.
Houve separação dos Wide Receivers? Diversas vezes, sim, houve, bem como houve overthrows frequentes.
Houve melhor proteção apesar dos 4 sacks? Sim, houve. Três sacks foram obtidos pela secundária dos Saints. Leitura pré-snap está em dia? Houve treino contra CB Blitz? Contra Safety Blitz? A linha ofensiva não teve culpa nos sacks (três na conta de Young e um na de Miles Sanders) e cedeu meras 8 pressões em 31 dropbacks.
Apesar de condições melhores do que em 2023, Young não produziu. Deu para ver que o elenco é melhor do que no ano passado.
Muito embora tenha jogado atrás do placar desde o primeiro snap, a carreira de Young está na berlinda de vez por conta de seu desempenho em New Orleans. Ou vai ou racha (se é que já não rachou).
A defesa dos Panthers também foi vilã. Não bastasse ceder pontos em nove campanhas consecutivas do oponente, os comandados de Ejiro Evero só obtiveram um sack e não forçaram turnovers. Derek Carr só errou QUATRO passes em 23 tentativas. Alvin Kamara combinou para 110 jardas e quebrou diversos tackles. Os bloqueios ofensivos dos Saints, especialmente durante a jogada, foram muito eficientes.
Nem dos Specials Teams dá para falar bem. Os especialistas dos Panthers cederam 32.5 jardas de média em retornos de kickoff (um de 33 e outro de 32) em claro despreparo frente as novas regras. Rashid Shaheed teve média de 20 jardas em três retornos de punt, sendo um de 47 jardas. E, ainda, por conta da proteção tenebrosa, Johnny Hekker teve um punt desviado/bloqueado.
Raheem Blackshear e Xavier Legette tiveram bons números retornando kickoffs – e foram 9 kickoffs retornáveis – com média de 25.5 e 28 jardas, respectivamente. O único turnover forçado por Carolina veio dos Special Teams no garbage time perdendo por 37 pontos. Tá de sacanagem, né?
Props e Slops
Props – Dave Canales. Em prol de um otimismo para contrabalançar a astenia do Bryce Young, as chamadas ofensivas do Dave Canales foram positivas. Ele aceitou que a abertura da temporada se transformou em jogo-treino, mas não deixou de chamar corridas. Em muitas situações de passe a movimentação dos Panthers foi diferente das de outrora e não deixou de ir para fourth downs mesmo quando FGs serviriam para amenizar o prejuízo.
Slops – Carolina Panthers. Tesão é uma palavra forte, mas simbólica sobre a determinação de um ser humano. O time não tinha tesão. Aceitou que era semana 19 da temporada de 2023, uma simples continuação. Até o TD dos Panthers foi feio sob o risco de ser um turnover. A principal briga do time é com seu próprio estigma dos últimos anos: a franquia mais sem futuro da NFL.
Nunca um 0-1 para abrir a temporada foi tão preocupante. A sensação de que dias melhores não virão assombra a torcida. Do lado de cá, novamente, nos resta acompanhar o ano 1 de Canales e torcer para que Cinderella tenha errado na letra de sua canção.
Os Panthers voltam a campo para sua estreia em casa no próximo domingo, dia 15/09/2024, contra os Los Angeles Chargers, às 14h (horário de Brasília).